quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Último beijo





"Etine disse para si mesma que Karl era um bom rapaz e não merecia ser magoado demais"


O Estudante das Humanidades - Hermann Hesse





Era somente mais uma madrugada que eu apenas saía para ver a noite. Sempre gostei da noite. Dessa vida noturna e dos perigos que eu poderia correr. E encrenca sempre gostou de mim, então sabia como agradá-la. E foi numa dessas madrugadas frias entre álcool e cigarros que a vi passando sorrindo, alegre entre os seus. Eu precisava daquele sorriso comigo, de acordar com ele. Roubei o carro do meu pai naquela noite e convenci aquele anjo a dar umas voltas comigo. Ela era linda e eu um mau caráter. Uma combinação perfeita e perigosa. Logo saímos pela estrada dirigindo e bebendo o máximo que podíamos, apenas nós e o carro naquela estrada sem fim. Lembro que falávamos de amor, sobre nossas dores, e paixões doentias. E eu dizia: “Babe, somos tudo o que precisamos”. Ela apenas sorria e me olhava com aqueles olhos verdes e eu era arrebatado. E nunca vou esquecer-me daquela noite, daquele som do motor pifado e um caminhão vindo em nossa direção. Não poderia fazer nada só esperar a batida. Somente olhei pra ela e então sorrindo me disse: “está tudo b...” E o impacto. Acordei cercado por pessoas. Olhei pra ela perto de mim então corri até o seu corpo ensanguentado e segurei forte em sua mão enquanto corria algo quente pela minha face saindo dos meus olhos. Ele sussurrava me pedindo “me dê um beijo, o nosso último. O meu último beijo. O meu coração se perdeu naquela noite e dando o último beijo sentia o sopro da vida deixando aquele corpo que já amava. Ela fechou os olhos e eu fiquei sobre seu peito pensando que teria que ser um homem melhor que eu quisesse encontrá-la no céu. Ela agora era uma estrela. Sempre soube que ela era. Mas agora brilha em outro céu. De outra pessoa. Por que não podia brilhar no meu?

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